sexta-feira, outubro 21, 2005

Sugestão de leitura



“Eu escrevo sobre a condição humana. A loucura, o amor, a morte.”

O romance "As horas nuas" reúne exactamente esses condimentos numa história perturbadora. Rosa Ambrósio, uma actriz alcoólatra prestes a atravessar a linha que separa a loucura da lucidez, e seu gato, Rahul, que, como a dona, sofre de PMD (psicose maníaco-depressiva). Após sujar seus bigodes numa tigela de leite, Rahul pensa: “Não acredito em Deus.” De um gato como este pode esperar-se tudo, inclusive que ele seja responsável por algumas das melhores passagens do livro.

Num luxuoso apartamento em São Paulo, bebe e monologa. Tendo perdido o marido e o amante, mãe de uma filha que não compreende, resta-lhe a empregada que cuida dela, Dionísia, e o gato Rahul, com memórias incompletas das suas vidas anteriores e testemunha silenciosa da intimidade e da solidão dos outros. Há ainda Ananta, a enigmática e esfíngica figura da psicanalista, cujo sistemático silêncio a confronta implacavelmente com as suas inquietações.

Rosa representa, apenas para si própria, as suas memórias, contando-as e recontando-as sempre de ângulos ligeiramente diferentes, que fazem que nunca se sobreponham, e assim vão impregnando a banalidade do quotidiano e o desarrazoado do delírio de uma magia transfiguradora.

Lygia Fagundes Telles, uma das grandes figuras femininas das letras brasileiras foi distinguida em 2005 com o Prémio Camões, As Horas Nuas (1989)

Perguntada em entrevista, certa vez, a que atribuía o sucesso de seus livros, Lygia Fagundes Telles respondeu: “Eu escrevo sobre a condição humana. A loucura, o amor, a morte.”

Ora aí fica a dica para o fim de semana.. ;) ****

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