quarta-feira, março 28, 2007

Mukhtaran Bibi

Shakkur era um rapaz de 12 anos que se terá insinuado junto de uma jovem de 18 ou 19, em Meerwata, uma aldeia da província paquistanesa de Penjabe. Como a jovem era filha do líder de uma tribo de agricultores e guerreiros, foi acusado de ter desonrado aquela família e a sua família condenada a pedir publicamente perdão à da ofendida.
De acordo com a justiça tribal, Mukhtaran - a irmã mais velha de Shakkur - foi escolhida pelo conselho da aldeia para se prostrar diante dos ofendidos e ser violada por quatro homens dessa família. Esta decisão foi tomada em 22 de Junho de 2002 e executada logo de seguida.
Mukhtaran Bibi encerrou-se no seu quarto, onde ficou alguns dias sem comer e quase sem dormir, desejando encontrar coragem para engolir um ácido e morrer, apagando assim a vergonha que pesou sobre si e a sua família. Depois de muito chorar, pensou que aquela forma de justiça, que sempre a tinha mantido em "submissão absoluta" e que a tinha condenado, não estava verdadeiramente de acordo com os princípios do Corão que lhe tinham ensinado.Sentindo-se injustiçada, admitiu que talvez pudesse existir outra forma de justiça que pudesse evitar que as suas irmãs e as outras meninas da aldeia pudessem vir a passar por situação semelhante.
Por isso, foi à Polícia relatar o que lhe tinham feito. O seu caso chegou aos tribunais paquistaneses, onde ainda se arrasta. Mas, entretanto, a Comunicação Social divulgou a sua triste história no país e no estrangeiro, o que levou o Governo paquistanês a indemnizá-la com um cheque chorudo, que ela não aceitou. Na sua simplicidade, Mukhtaran disse que, se a queriam ajudar, seria preferível que lhe dessem uma escola. Embora fosse analfabeta, desejava que as meninas da sua aldeia pudessem aprender a ler e a escrever, bem como os seus direitos.
Hoje participa na gestão de três escolas, com 13 professores, que ensinam gratuitamente cerca de mil crianças da sua região. Ela própria vai aprendendo a ler e a escrever, com as meninas e os meninos da sua aldeia e das aldeias vizinhas. "Os rapazes aprendem a respeitar as mulheres e os direitos humanos", afirma. E entre esses rapazes encontram-se os filhos dos seus violadores, para que aprendam "a não fazerem o mesmo quando crescerem", diz. Símbolo de milhares de mulheres condenadas a mutilações e violações por "crimes de honra", Mukhtaran soube não transformar a sua tragédia em ódio. Pelo contrário, concentrou toda a sua energia de forma construtiva, renascendo da adversidade e procurando criar condições para que as outras meninas da sua aldeia não passassem por situação semelhante, o que tornou o seu caso exemplar. Por isso ele foi relatado no livro "Desonrada", sucesso de vendas a nível internacional; e por isso o Conselho da Europa lhe atribuiu no passado dia 19 o Prémio Norte-Sul, que distingue os defensores dos direitos humanos.

1 comentário:

Pistaxa disse...

Ora nem mais.