Shakkur era um rapaz de 12 anos que se terá insinuado junto de uma jovem de 18 ou 19, em Meerwata, uma aldeia da província paquistanesa de Penjabe. Como a jovem era filha do líder de uma tribo de agricultores e guerreiros, foi acusado de ter desonrado aquela família e a sua família condenada a pedir publicamente perdão à da ofendida.
De acordo com a justiça tribal, Mukhtaran - a irmã mais velha de Shakkur - foi escolhida pelo conselho da aldeia para se prostrar diante dos ofendidos e ser violada por quatro homens dessa família. Esta decisão foi tomada em 22 de Junho de 2002 e executada logo de seguida.
Mukhtaran Bibi encerrou-se no seu quarto, onde ficou alguns dias sem comer e quase sem dormir, desejando encontrar coragem para engolir um ácido e morrer, apagando assim a vergonha que pesou sobre si e a sua família. Depois de muito chorar, pensou que aquela forma de justiça, que sempre a tinha mantido em "submissão absoluta" e que a tinha condenado, não estava verdadeiramente de acordo com os princípios do Corão que lhe tinham ensinado.Sentindo-se injustiçada, admitiu que talvez pudesse existir outra forma de justiça que pudesse evitar que as suas irmãs e as outras meninas da aldeia pudessem vir a passar por situação semelhante.
Por isso, foi à Polícia relatar o que lhe tinham feito. O seu caso chegou aos tribunais paquistaneses, onde ainda se arrasta. Mas, entretanto, a Comunicação Social divulgou a sua triste história no país e no estrangeiro, o que levou o Governo paquistanês a indemnizá-la com um cheque chorudo, que ela não aceitou. Na sua simplicidade, Mukhtaran disse que, se a queriam ajudar, seria preferível que lhe dessem uma escola. Embora fosse analfabeta, desejava que as meninas da sua aldeia pudessem aprender a ler e a escrever, bem como os seus direitos.
Hoje participa na gestão de três escolas, com 13 professores, que ensinam gratuitamente cerca de mil crianças da sua região. Ela própria vai aprendendo a ler e a escrever, com as meninas e os meninos da sua aldeia e das aldeias vizinhas. "Os rapazes aprendem a respeitar as mulheres e os direitos humanos", afirma. E entre esses rapazes encontram-se os filhos dos seus violadores, para que aprendam "a não fazerem o mesmo quando crescerem", diz. Símbolo de milhares de mulheres condenadas a mutilações e violações por "crimes de honra", Mukhtaran soube não transformar a sua tragédia em ódio. Pelo contrário, concentrou toda a sua energia de forma construtiva, renascendo da adversidade e procurando criar condições para que as outras meninas da sua aldeia não passassem por situação semelhante, o que tornou o seu caso exemplar. Por isso ele foi relatado no livro "Desonrada", sucesso de vendas a nível internacional; e por isso o Conselho da Europa lhe atribuiu no passado dia 19 o Prémio Norte-Sul, que distingue os defensores dos direitos humanos.
1 comentário:
Ora nem mais.
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