segunda-feira, maio 30, 2005
O Mundo É Uma Loucura
Li aquelas palavras, aqueles risos.
Li e senti-me encolher pequenina... pequenina.
Queria gritar que não é assim, não é.
Mas invés disso sinto uma dor no peito a crescer,
a crescer, a inundar-me.
A sentir-me pequenina.
"Mãe o doutor não vai fazer doer pois não?
Pois não, Mãe? Pois não?
Mas Mãe... Eu não quero que ele me veja assim,
nua, desprotegida, não quero
que ele me veja onde mais ninguém me vê
a não ser quem amo.
Mas Mãe eu queria ser uma menina normal...
Mas Mãe..."
Ouves-me Mãe?
Deixo que as lágrimas inundem os meus olhos
até ouvir as íris silencarem-se perante
a imensidão da minha dor...
E sinto-me tão pequenina.
Eu sei, eu sei que não devia doer assim.
Não por causa de uma piada...
Mas... dói.
"Mas mãe porque fazem os meninos
anedotas da dor dos outros?
Porquê mãe?"
Ouves-me?
E eles riem. Eles aplaudem.
Sinto-me pequenina, sozinha neste mundo
meu. De homens de batas brancas a
corromperem-me. Devagar.
"Mãe... Eu sei que é para me curar de um dói-dói,
mas mãe... Ficas comigo? Ficas aqui a agarrar-me a mão?"
Essas palavras que ninguém ouve
são a base das suas anedotas.
Esses sorrisos pintados de lágrimas
que ninguém vê.
Esses arranques de dor no meu ventre.
A expulsar uma negação de Vida.
Ouves-me?
Eu não sei gritar que não se fazem piadas
com a dor dos outros. Com a amargura.
Com a anormalidade do ser.
Eu não sei.
Eu só sei gritar palavras ocas num papel...
É lá que ecoam todas as minhas palavras.
Todas as minhas palavras.
As minhas palavras...
As minhas.
"E elas abrem as pernas e dizem... olhe tá a ver aqui xôr dotôr?"
E as pessoas riem-se.
E eu encolho-me.
Eu encolho-me.
Sabes o que é um mundo de inversão num corredor
branco?
Sabes o que o mundo a girar no teu ventre?
Sabes o que é... O mundo somente girar?
Sou tão pequenina... Pequenina, agarro-te na mão e murmuro baixinho...
"Mãe... e se doer tu fazes a dor ir embora?
Mãe... apagas de mim estas lágrimas? Esta mágoa...?
Mãe... apagas de mim estes poemas?
Mãe, dás-me outras palavras?
Outros poemas?
Oh Mãe... não me deixes aqui sozinha.
Não me deixes aqui, aberta, exposta, minha Mãe".
"Mãe.. porque é que os homens se riem
quando outro cai? Mãe... porque é que os homens se riem
quando alguém tropeça?
Mãe... explica-me.
Explicas?"
E fico ali. A inverter o mundo nas mãos.
A incompreender as pessoas.
Se eu pudesse.
Se eu pudesse explicar. Se eu soubesse
gritar.
Apagas de mim esta imensidão de sal
cravado no meu rosto?
E eu choro.
Por mim. Pela minha privacidade violada.
Pelos homens que tropeçam e caem.
Pelos homens que se riem.
Pelos que aplaudem.
Pelos que são meninos encolhidos
no colo das suas mães.
Vem a música e lava-me numa corrente de água.
Numa corrente de sons lentos e sinto a mão.
A mão que afaga o cabelo.
O sorriso que diz...
"Já passou, filha... Já passou.
Estou aqui."
E a dor devagarinho transforma-se num lago,
num lago...de braços a estreitarem-me o corpo.
De dedos no meu cabelo.
A música que me fecha as feridas de novo.
"All around me are familiar faces (...)
going nowhere, going nowhere
Their tears are filling up their glasses
no expression, no expression
Hide my head I want to drown my sorrows
no tomorrow, no tomorrow
And I find it kind of funny, I find it kind of sad
these dreams in which I'm dying are the best I've ever had
I find it hard to tell you, I find it hard to take
when people run in circles it's a very very
Mad World, Mad World"
"Mad World" - Michael Andrews by Gary Jules, Donnie Darko soundtrack
É um texto dedicado à humanidade e ao medo e à desconfiança e à crueldade que nos fazem ser tão humanos.
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