sexta-feira, abril 15, 2005

Realidade

Em ti meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzela...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálperas são cor de verbena,
Eu tenhu os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei...se te perdi...

Florbela Espanca

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